sexta-feira, 26 de março de 2010

Castro

Meu Senhor,
Esta é a mãe de teus netos. Estes são
Filhos daquele filho que tanto amas.
Esta é aquela coitada mulher fraca,
Contra quem vens armado de crueza.
Aqui me tens. Bastava teu mandado
Pera eu segura e livre te esperar,
Em ti, e em minha inocência confiada.
Escusaras, senhor, todo este estrondo
De armas e cavaleiros: que não foge,
Nem se teme a inocência da justiça.
E quando meus pecados me acusaram
a ti fora buscar, a ti tomara
Por vida em minha morte.Agora vejo
Que tu me vens buscar. Beijo estas mãos
Reais tão piedosas, pois quiseste
Por ti vir-te informar de minhas culpas.
Conhece-mas, senhor, como bom rei.
Como clemente e justo, e como pai
De teus vassalos todos, a quem nunca
Negaste piedade com justiça.
Que vês em mim, senhor? que vês em quem
Em tuas mãos se mete tão segura?
Que fúria, que ira esta é, com quer me buscas?
Mais contra imigos vens, que cruelmente
Te andassem tuas terras destruindo
A ferro e fogo. Eu tremo, senhor, tremo
De me ver ante ti como me vejo,
Molher, moça, inocente, serva tua,
Tão só, sem por mim ter quem me defenda,
Que a língua não se atreve, o sprito treme
Ante tua presença; Porém, possam
Estes moços, teus netos defender-me.
Eles falem por mim, eles só ouve:
Mas não te falarão, senhor, com língua,
Que inda não podem. Falam-te coas almas,
Com suas iades tenras, com seu sangue,
Que é teu, te falarão.Seu desemparo
Te está pedindo vida: não lha negues.
Teus netos são, que nunca téqui viste:
E vê.los em tal tempo, que lhes tolhes
A glória e o prazer, que em seus spritos
Lhes está Deos revelando de te verem.

«Rei
Tristes foram teus fados, Dona Inês,
Triste ventura a tua.»

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